domingo, 16 de agosto de 2009


Essa história foi contada pela Pomba Gira Maria Padilha das Sete Encruzilhadas que trabalha na Egrégora do CECP, visando explicar algumas dinâmicas de trabalho. Os personagens dessa história receberam nomes fictícios.
Carlos se dirige a um Centro de Umbanda aconselhado por um amigo, pois a sua vida está bastante com­plicada. Sua mãe vive doente, já tendo ido a diversos médicos sem sucesso na cura. O seu pai foi demitido da empresa que trabalhava há mais de 25 anos e vive deprimido e chorando pelos cantos. Ele mesmo desempregado há três anos, vê o seu filho adoecer sem condições de comprar o medicamento.A sua esposa, única ainda empregada, apresenta sérios indícios de fadiga mental e física.Ao chegar no centro descobre que é dia de consulta com Preto Velho. O seu amigo Cláudio, vai explicando a rotina da casa e como ele deve agir e pedir na hora da consulta.Chega finalmente a sua vez de se consultar, o seu pensamento está co­ber­to de dúvidas, achando que estava chegando ao fundo do poço ao se dirigir a um terreiro de macumba, falar com uma pessoa que nunca viu antes na vida e abrir o seu coração, suas dúvi­das e temores. Num primeiro momento acha graça da posição do médium todo curvado e do jeito de falar, não conse­gue se aquietar, mas o Preto Velho vai aos pouquinhos ministrando alguns passes e por fim Carlos começa a se abrir.O Preto Velho a tudo ouve, mani­fes­tando de tempos em tempos pa­lavras encorajadoras para o aflito Car­los.Carlos não entende o porque, mas enquanto ele fala, o Preto Velho vai estalando os dedos em volta dele, olha discretamente para o copo d’água ao lado da vela, joga para cima a fumaça de seu cachimbo, e assim vai firmando e passando as informações para os guardiões que pertencem à egrégora da Casa, que através dos Exus de trabalho partem com a velocidade do pensamento para a casa de Carlos.Em dado momento, o Preto Velho que está “preso” ao corpo carnal do médium e conse­qüen­temente com sua visão limitada, utiliza alguns elementos magísticos e ritualísticos para propor­cionar alívio ao Carlos.Diz no final da consulta que irá trabalhar para ele e toda a sua família, dá algumas reco­mendações sobre como rezar e elevar o pensamento a Deus e se despedem.Carlos tem alguma sensa­ção de alívio, sente-se mais leve e confiante, mas ao mesmo tempo não acredita que meia dúzia de estalar de dedos vão “resolver” o seu problema... Incrédulo, mas não tão fraco re­torna à sua casa sem nem imaginar que a batalha está apenas começando.O Preto Velho ao ver Carlos se le­vantar e ir embora sabe que a essa altura toda a egré­gora da Casa já está se preparando para a batalha, e, ape­sar de ainda estar preso ao corpo do médium pelo processo de incor­pora­ção, pôde perceber que será grande.Mas ainda há o que ser feito em terra... Precisa descarregar o seu apa­relho e o terreiro. Terminado o saravá ele parte indo se unir com os outros membros da egrégora.Com o término dos trabalhos, os médiuns começam a ir embora e no Terreiro de Umbanda se faz silêncio. Mas um silêncio apenas aos ouvidos humanos, pois os sons ali emitidos estão numa freqüência diferente dos sons conhecidos nessa Terra.E os médiuns pensam: “A gira terminou.”Não meus caros, a “gira” está ape­nas começando.A egrégora da Casa está reunida dentro do terreiro aguardando o retor­no dos Exus de Trabalhos com as informações reais de cada consulta que foi realizada.Os Exus vão retornando, um a um.O Mentor da Casa assiste e faz intervenções quanto às deliberações do Alto, e os Chefes de Linha esta­belecem o famoso “quem vai fazer o que”. Tudo isso ocorre em ambiente abso­lutamente harmônico e orga­nizado.Exus, Caboclos e Pretos Velhos trocam impressões a respeito dos problemas apresentados e deliberam.Mas, voltando ao nosso amigo Car­los. (Nesse momento vou dar nomes fictícios também às entidades envol­vidas nesse trabalho. Digamos que o Preto Velho que atendeu Carlos chama-se Pai Benedito e o Exu de Trabalho chamado por ele foi Exu Marabô).Quando Exu Marabô retorna com as informações a respeito do que encontrou na casa de Carlos, o diálogo que se dá é o seguinte:Exu Marabô: É, Pai Benedito, a situação lá está bem complicada.Pai Benedito: Eu já suspeitava. O que você viu?Exu Marabô: A casa do moço Car­los foi totalmente absorvida por uma re­de de energia que tem seres bem grotescos mantendo-a firme. Segui buscando a origem dessa rede e me deparei com uma construção logo aci­ma da casa.Adentrando ao recinto vi uma inte­ligência poderosa por trás disso, mas sem nenhuma relação direta com ne­nhum dos envolvidos. Buscando en­tender a “trama” continuei procurando o porque daquilo e encontrei uma mu­lher bastante dementada, com um apa­relho acoplado em sua nuca e pude “ler” seus pensamentos e “sentir” seus de­sejos que eram de vingança para com o pai carnal do moço Carlos. Vi também que eles ainda não sabem que o moço Carlos veio aqui no terreiro.Bem, em resumo: A inteligência en­volveu essa pobre infeliz, prometendo-lhe “devolver” o pai do moço Carlos para ela e suga suas energias que é retro-alimentada pelo sentimento de culpa que o pai do moço Carlos tem. Parece que foi uma aventura dele na juventude, só não me preocupei em saber se desta ou de outra vida, pois achei que os dados que tinha já eram suficientes para podermos trabalhar.Pai Benedito: Sim, sim... Mais do que suficientes! Não estamos aqui para julgar ninguém. Isso cabe ao Pai.Bem, nesse caso teremos que des­truir essa construção, mas precisamos primeiro recuperar a moça, e já que o pai de Carlos está involuntariamente retro-alimentando a construção, preci­sa­remos de recursos para auxiliar os familiares também.Assim, Pai Benedito se dirige ao Ca­boclo Flecha Dourada, responsável pela corrente de desobsessão daquele terreiro e expõe a situação.Imediatamente o Caboclo determina que a Pomba Gira Figueira irá utilizar os seus elementos magísticos para que a equipe de resgate da Casa recupere a moça e quem mais tenha condições de tratamento e a “equipe de força” destrua a construção e todos os equi­pa­mentos dentro dela.Tarefas distribuídas, eles partem para a construção.Caboclos, Pretos Velhos e Exus guar­dam uma certa distância da cons­trução e observam a Pomba Gira Figuei­ra assumir uma configuração pratica­men­te transparente.Ao chegar perto da construção percebe-se sair de sua boca uma es­pécie de fumaça enegrecida que come­ça a tomar conta do ambiente. Logo atrás dela, homens empurram uma es­pécie de carrinho, que lembram os car­ri­nhos usados em minas de escavação de carvão.Conforme a Sra. Figueira vai en­trando no ambiente tomado por essa fumaça negra, os seres que lá estão caem em profundo sono, sendo resga­tados pelos homens e colocados dentro dos carrinhos. A ação dela é rápida. Ninguém percebe a sua presença.Quando todos são resgatados, a Sra. Figueira começa a manipular a ener­gia dos instrumentos dentro da cons­trução mudando sua forma, plas­mando outras energias e transfor­mando os instrumentos em bombas auto-destrutivas.Finalmente sai da construção e os Exus que compõe a “tropa de choque” ou “equipe de força” passam a detonar a bomba e a destruir a construção e a malha que envolve a construção mate­rial na Terra e a prender os seres gro­tescos que dão sustentação à malha no ponto da construção material.Caboclos e Pretos Velhos começam a tratar ali mesmo as inteligências re­tiradas da construção, colocando-os em macas e direcionando aos locais ade­quados aos tratamentos que irão receber, sob os olhos atentos dos Exus Guardiões, Amparadores e de Trabalho.Outros partem para a construção material e começam o trabalho indivi­dualizado entre os membros da família. Exus fazem o trabalho de limpeza e des­carga, resgatando os “perdidos”, para serem encaminhados para os trabalhos de desobsessão da Casa de Umbanda, abrindo espaço e dando condições vibratórias para o trabalho dos Caboclos e Pretos Velhos que é o de inspirar pensamentos de perdão ao pai de Carlos, de esperança no próprio Carlos, saúde e bons eflúvios na espo­sa e mãe de Carlos. Através de passes magnéticos Caboclos e Pretos Velhos transformam o campo vibratório da ca­sa e cuidam de seus moradores.Enquanto tudo isso ocorre a casa dorme, e todos são tratados em espírito.Enquanto isso os médiuns daquele terreiro também dormem em suas ca­sas, mas alguns estão doando ecto­plas­ma, auxiliando nos trabalhos de trans­mutação energética. Uns partici­pando ativamente e outros observando e aprendendo, através do processo de desdobramento, assistem a boa par­te dos trabalhos.Após o trabalho realizado o Mentor da Casa sorri.*******É claro que todos sabem que de agora em diante é de acordo com o merecimento de cada um, de cada mem­bro dessa família, tudo dependerá do quanto cada um irá lutar para melhorar, mas agora sem as “amarras” ou interferência do Astral Inferior.A Umbanda através de uma ação conjunta dos componentes da egré­gora de uma Casa de Umbanda pôde proporcionar alívio, conforto e liberta­ção aos membros da família e auxílio aos irmãos perdidos nas trevas da ignorância, do ódio, do rancor, do re­mor­so e da culpa.Mesmo que Carlos nunca mais vol­te ao terreiro para agradecer a melho­ra, ou que nunca desperte para a ajuda que recebeu, mesmo que o pai de Car­los nunca se perdoe, a Umbanda se fez presente em Caridade e Amor!Agora diga com sinceridade, após ler tudo isso você ainda acha que Exu é o Diabo?Você acha que importa ficarmos discutindo se Exu, a Umbanda e seus Orixás vieram da Atlântida, da África ou do quintal da sua casa?Se ainda lhe resta alguma dúvida eu afirmo a minha certeza: a Umbanda nasceu do Coração de Zambi em Sua Infinita Misericórdia por nós! Porque só a Umbanda tem quem nos defenda e proteja independentemente da nossa ignorância nos impedir de reconhecê-los como bons e amigos!Obrigada Exu pela proteção, defe­sa e principalmente por ter tanta pa­ciência com a nossa ignorância!Salve os nossos amigos, defen­sores e compadres! Saravá Exu e Pomba Gira! Laroyê Exu!

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